Até 2044, 48% dos adultos brasileiros devem ter obesidade e 27% sobrepeso, conforme indica uma pesquisa apresentada no Congresso Internacional sobre Obesidade (ICO) deste ano. Atualmente, os números correspondem a 34% e 22%, respectivamente.
O trabalho, desenvolvido por pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), estima ainda 10,9 milhões de novos casos de doenças crônicas associadas ao Índice de Massa Corporal (IMC) elevado, como diabetes (5,57 milhões), doenças cardiovasculares (2,12 milhões), doença renal crônica (2,78 milhões), cânceres (122 mil) e cirrose (292 mil).
De acordo com a Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso), a obesidade é a segunda maior causa de óbitos que poderiam ser prevenidos, perdendo apenas para o tabagismo. A enfermidade pode reduzir a expectativa de vida de três a dez anos. Em casos graves, pode ser necessário o uso de medicamentos para evitar complicações, como o Wegovy.
O risco de desenvolver problemas cardiovasculares é ainda maior quando relacionado a fatores como idade, quantidade de gordura abdominal e outras comorbidades. Segundo a presidente da Abeso, Cintia Cercato, pessoas com obesidade também têm maiores riscos associados à imunidade, como mais infecções urinárias e respiratórias, pneumonias, gripes graves e Covid-19.
As causas do desenvolvimento da obesidade podem estar relacionadas a diversos fatores, mas principalmente ao estilo de vida, como alimentação inadequada, sedentarismo e uso excessivo de telas. Para a professora de Educação Física da Universidade de São Paulo (USP), Ellen Cristina de Freitas, fatores econômicos e sociais também podem influenciar significativamente.
Segundo ela, a rotina de trabalho exaustiva e a falta de acesso à infraestrutura para prática de atividades físicas deixam as pessoas economicamente vulneráveis em situações que favorecem o sedentarismo e o aumento de peso. Além disso, alimentos ultraprocessados são mais atrativos devido ao preço mais acessível e por serem práticos de consumir em relação aos alimentos in natura.
Tratamento pode incluir alimentação, atividade física e medicamentos
A alimentação adequada e saudável, com diminuição da ingestão de calorias, é uma das principais medidas para combater a obesidade. A preferência deve ser alimentos in natura e minimamente processados.
Além disso, a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia do Estado de São Paulo (SBEM-SP) indica que o tratamento para esse distúrbio inclui o aumento da prática de atividade física e pode ser associado ao uso de medicamentos.
Entre os possíveis medicamentos está o Wegovy, aprovado no começo de 2023 pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para o tratamento da obesidade. Sua composição contém semaglutida em uma dosagem de 2,4 mg.
A semaglutida age em diferentes áreas do organismo e possui múltiplas funções, incluindo a perda de peso ao reduzir a ingestão calórica, aumentar a sensação de saciedade e diminuir a fome, conforme explica a SBEM. A substância também está presente no Ozempic, indicado para o tratamento do diabetes tipo 2 e usado de maneira off label no combate à obesidade.
O uso desses medicamentos deve ser realizado sob orientação médica. O acompanhamento profissional é fundamental para monitorar os resultados, ajustar dosagens e gerenciar seus possíveis efeitos colaterais, como náuseas, vômitos e diarreia.
Políticas públicas devem auxiliar no combate à obesidade
Para diminuir a tendência de aumento do número de brasileiros acima do peso, os autores da pesquisa apresentada no ICO reforçam que políticas robustas devem ser implementadas no país, incluindo o tratamento dos casos existentes e evitando que ocorrências de sobrepeso transitem para a obesidade.
"É importante trabalhar em todas as faixas etárias, desde a primeira infância até a idade adulta, melhorando os ambientes alimentares por meio de políticas regulatórias e fiscais que facilitem escolhas alimentares saudáveis, como consumir uma diversidade de alimentos frescos e minimamente processados", explicam os pesquisadores.
Como forma de combater a obesidade, o Ministério da Saúde disponibiliza atualmente um guia alimentar para crianças com menos de dois anos, outro para a população geral e mais um sobre como se exercitar. A Anvisa também exige, através da Resolução da Diretoria Colegiada 429/2020, que os rótulos de produtos alimentícios indiquem informações como o uso de açúcar adicionado, sódio e gordura saturada.
Além disso, a obesidade já é reconhecida como um fator de risco e uma doença pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Pessoas afetadas por essa condição são identificadas e atendidas por meio da Atenção Primária à Saúde (APS), com o suporte de uma equipe multiprofissional nas Unidades Básicas de Saúde. Esta realiza o acompanhamento e, quando necessário, encaminha os pacientes para a Atenção Especializada.