Volta às aulas nas Etecs de SP: estudantes falam de sonhos e expectativas para o novo ano letivo
Os espaços amplos e organizados, distribuídos pelos quatro andares da Escola Técnica Estadual (Etec) Sebrae, na Capital, fascinaram Arthur em sua visita à unidade, em 2024. Na quarta-feira (5), ele voltou lá, agora para o seu primeiro dia de aula. Ivaneis Ferreira Reis, bombeiro da unidade desde 2014, sabia que Arthur da Silva Reis, seu filho caçula de 15 anos, teria futuro na escola. O estudante escolheu o curso de Administração, no formato de Articulação dos Ensinos Médio, Técnico e Superior (AMS). Com isso, ele concluirá o Ensino Médio, Técnico e Superior em cinco anos, sem a necessidade de prestar vestibular.
No primeiro dia de aula, tudo ainda era novidade. "Já vi que vou ter muita coisa para fazer aqui", conta, depois de notar que os esportes também farão parte da sua rotina escolar. E como imagina o seu futuro a partir de agora? "Eu sei que vou ter uma boa educação, e os professores parecem bem legais", diz Arthur, que começa as respostas com um "Caaaara", estendendo a primeira vogal em sinal de puro encantamento.
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Trabalho em grupo
Lorena de Melo Figueiredo será colega de Arthur na jornada que se inicia. Ela também visitou a unidade com os pais antes de prestar o Vestibulinho – processo seletivo que dá acesso aos cursos das 228 Etecs espalhadas pelo Estado de São Paulo. Quando soube do AMS, pensou: "não dá para perder essa oportunidade".
Assim como Arthur, a jovem também estará acompanhada por parte da família: a irmã gêmea, Valentina, entrou no Ensino Médio integrado ao Técnico em Desenvolvimento de Sistemas, na mesma unidade. As irmãs de 16 anos levaram em conta o prédio, o programa, o fato de que trabalham muito em grupo e desenvolvem um trabalho de conclusão de curso (TCC), ainda no Ensino Médio.
"Nesta escola vamos aprender a viver coletivamente, a ser éticos e ter respeito pelo outro", diz Valentina. "Ao chegar ao mercado de trabalho, todos têm que conviver com pessoas diferentes, até mesmo um trabalhador autônomo", completa.
A distância de casa até a Etec Sebrae é grande. Elas vivem a mais de 30 quilômetros da Capital, em Cotia. "É longe, mas achamos que vale a pena", assegura Lorena.
Um palco no pátio
Na Etec de Artes, o começo das aulas é o retorno para alguns, uma descoberta para outros e um sonho realizado para Nicole Freitas. É assim que a estudante de 18 anos define o curso de Teatro em que acaba de ingressar, depois de ter concluído o Ensino Médio integrado ao Técnico em Desenvolvimento de Sistemas, na Etec de Guarulhos.
"Um amigo me falou da Etec de Artes, que fica na zona norte de São Paulo", lembra. Na época, ela já participava de um grupo de teatro amador, mas queria o que a Etec pode oferecer: o ensino profissional trilhado em três semestres e em um bairro não tão distante da casa dela.
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Sentada no grande palco montado no pátio, onde os estudantes se reúnem no intervalo das aulas, os olhos percorrem o espaço enquanto ela declara: "agora estou exatamente onde deveria estar".
Razão e sensibilidade
Natália Cezário, de 19 anos, também se surpreendeu quando o mesmo amigo que alertou Nicole, estudante do curso de Teatro, levou a ela a boa nova. A reação de Natália foi de espanto: "Teatro numa Etec? Como assim?"
Terminado o Ensino Médio em uma escola pública, a menina, que já gostava de dança e música desde pequena, decidiu trabalhar, mas sabia que faltava alguma coisa. Estava decidida a cursar a faculdade de Direito, meio a contragosto, quando soube da Etec. "A ficha caiu, agora não consigo mais largar a arte", conta. E diz o porquê: "Arte exige sensibilidade e vejo isso aqui, é um lugar sensível", acredita. Ao lado de Nicole, de quem já se tornou amiga, Natália sabe que há alunos que ficam muitos anos na unidade, concluindo um curso e ingressando em outro. "Até gabaritar", brinca.
Fernanda Silva Pereira também está dando os primeiros passos na Etec de Artes, no Ensino Médio integrado ao Técnico em Design de Interiores. Aos 15 anos, a jovem já tem o futuro desenhado: fazer uma faculdade de arquitetura e estudar no exterior, talvez no Canadá. Em um futuro próximo, a expectativa é "aprender muito, com colegas e professores". Nem será preciso fazer um esforço para se adaptar à nova escola. "Eu já estou bem integrada", garante.
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Área verde
"Eu não sabia que esta Etec era tão boa", comenta Miguel Moreira Romero Félix, 15 anos, a propósito tanto do currículo quanto da área verde que cerca a Etec São Paulo, conhecida como Etesp. Matriculado no Ensino Médio integrado ao Técnico em Meio Ambiente, o aluno só sente não estar ao lado do irmão, que prestou o Vestibulinho, mas não passou. "Ele vai tentar de novo no ano que vem, mesmo que perca o primeiro ano do Ensino Médio", conta Miguel, que sabe o que quer da escola: "Vou seguir carreira em meio ambiente", afirma convicto.
Amigos em tempo integral
Foi em um cursinho preparatório para o Vestibulinho das Etecs que João Pedro Silva Alves, de 15 anos, e Vicenzo Prado Franceschini, de 14, se conheceram e ficaram amigos. Agora começam a frequentar a Etec São Paulo – João no Ensino Médio integrado ao Técnico em Eletrônica, e Vicenzo no Ensino Médio integrado ao Técnico em Meio Ambiente.
No pátio repleto de plantas, os estudantes falam das suas expectativas. "Todos aqui parecem sociáveis, acredito que a convivência com os colegas será boa", assinala Vicenzo.
João já pensa em estudar no exterior. "Reino Unido ou Canadá", antecipa. Vicenzo foca na Austrália. "Vou ser diplomata ambiental", diz, decidido. Diante dos ataques que a natureza vem sofrendo – e revidando – o aluno delineou um futuro em que as verdades virão à tona. E ele estará na linha de frente.
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Agência SP