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Mães solo enfrentam sobrecarga de criar e sustentar famílias, aponta psicóloga

Mais de 10 milhões de mulheres no país enfrentam sozinhas a responsabilidade de criar e sustentar suas famílias; Psicóloga perinatal explica como sobrecarga mental afeta saúde das mães solo

Por Vitor GPL

07/11/2024 às 07:36:28 - Atualizado há
Divulgação

Mais da metade dos lares brasileiros são chefiados por mulheres, segundo dados do Censo 2022 do IBGE. Mas entre essas famílias, existe um recorte ainda mais desafiador: mais de 10 milhões de mulheres no Brasil são mães solo, ou seja, assumem sozinhas a responsabilidade de prover e cuidar dos filhos. Para elas, o dia a dia é uma combinação de múltiplas jornadas que frequentemente resultam em esgotamento físico e mental.

Micaelly Gomes, 26 anos, é uma dessas mulheres. Mãe de duas crianças, ela trabalha em três empregos para sustentar a casa. Sua rotina começa cedo e termina tarde: sai de um trabalho e já parte para o próximo, e quando chega em casa, sua jornada continua com as demandas dos filhos. "Eu faço comida, vejo se fizeram a lição, coloco para dormir. Às vezes, me sinto tão exausta que penso: será que vou aguentar?".

Recentemente, uma situação na escola de sua filha a fez refletir sobre o impacto da sua ausência. "A professora me disse que minha filha comentou que "a mãe nunca está em casa porque sempre está trabalhando". Uma vez, ela chegou a dizer que eu não a amava, porque nunca consigo ficar com eles. Isso me quebrou, porque eu corro para dar o melhor, mas deixo faltar o principal: o tempo com eles". Micaelly também ressalta que o esgotamento físico e psicológico tem sido constante. "É muito difícil ser mãe solo, tenho que ser o pilar da casa, mas estou cansada", desabafa.

Outra mãe solo, de 49 anos, cuida sozinha de três filhas adolescentes e descreve a pressão emocional, mas preferiu não se identificar. Após uma separação difícil, ela trabalha em dois empregos para sustentar a casa e diz sentir que as demandas de trabalho e cuidado com as filhas frequentemente superam suas forças. "Eu nunca consigo proporcionar momentos simples para elas, como um passeio em família. A falta de tempo e de recursos pesa demais". Além disso, a saúde mental dela e das filhas foi impactada pela ausência de apoio e pela rotina de sobrecarga: "Eu e minha filha mais velha fomos diagnosticadas com depressão, e isso só piora sem uma rede de apoio", conta.

A carga invisível e a culpa constante

Para a psicóloga perinatal Rafaela Schiavo, fundadora do Instituto MaterOnline, o cenário das mães solo no Brasil revela a sobrecarga invisível, que pode provocar ciclo de culpa. "Essas mulheres estão tentando equilibrar sozinhas o sustento e o cuidado dos filhos, e a falta de uma rede de apoio agrava ainda mais esse peso emocional. A culpa é frequente, pois elas se cobram intensamente por não conseguirem dar conta de tudo". Ainda segundo a psicóloga, muitas mães sentem que, mesmo se esforçando ao máximo, estão falhando, o que leva a um desgaste mental profundo.

A culpa materna, como aponta Schiavo, se intensifica pela pressão social, autocrítica e pela percepção de que deveriam ser capazes de estar presentes e disponíveis o tempo todo para os filhos, mesmo diante de uma rotina exaustiva. "Elas se cobram para oferecer o melhor para os filhos, mas, em muitos casos, acabam se privando de qualquer momento para si mesmas. Esse acúmulo de responsabilidades, sem pausas e sem apoio, pode levar ao esgotamento emocional e físico", observa.

Além da pressão financeira, as mães solo assumem integralmente o trabalho doméstico e o cuidado com os filhos — tarefas sem remuneração e frequentemente invisíveis. Para Rafaela Schiavo, a ausência de políticas públicas de apoio acentua essa vulnerabilidade. "O cuidado com os filhos é essencial, mas quando esse trabalho recai integralmente sobre as mães, sem suporte, o impacto sobre a saúde mental delas se torna inevitável".

Dicas para enfrentar a sobrecarga

- Construa uma rede de apoio: Mesmo sem um parceiro, buscar o suporte de familiares, amigos ou vizinhos de confiança pode aliviar parte da pressão;

- Separe momentos para autocuidado: Mesmo breves, esses momentos ajudam a preservar a saúde mental. O autocuidado pode incluir pequenas pausas no dia, algo que devolva energia;

- Converse com outras mães: Trocar experiências com outras mães solo pode ajudar a aliviar o peso emocional e fortalecer a sensação de pertencimento;

- Busque apoio psicológico perinatal: Quando o estresse se torna difícil de manejar, o acompanhamento profissional é fundamental para auxiliar a manter o equilíbrio.

Quem é Rafaela Schiavo?

É psicóloga perinatal e fundadora do Instituto MaterOnline. Desde sua formação inicial, dedica-se à saúde mental materna, sendo autora de centenas de trabalhos científicos com o objetivo de reduzir as elevadas taxas de alterações emocionais maternas no Brasil.

Possui graduação em Licenciatura Plena em Psicologia e graduação em Psicologia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho. Além disso, concluiu seu mestrado em Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem e doutorado em Saúde Coletiva pela mesma instituição. Realizou seu pós-doutorado na UNESP/Bauru, integrando o Programa de Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem. Tem experiência na área de Psicologia, com ênfase em Desenvolvimento Humano, atuando principalmente nos seguintes temas: desenvolvimento pré-natal e na primeira infância; Psicologia Perinatal e da Parentalidade.

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