"Adolescentes" série da Netflix: Quando a realidade cobra o preço das narrativas

Por Daniela Cracel, psicóloga e especialista em saúde mental

Séries da Netflix e HBO como Euphoria, 13 Reasons Why e Heartstopper retratam o universo adolescente com intensidade, explorando temas como bullying, saúde mental, identidade e crises familiares. Mas até que ponto essas narrativas refletem a realidade? E, mais importante: até onde vai a responsabilidade da sociedade nos dramas vividos pelos jovens?

A ilusão de que só os pais são responsáveis

Quando tragédias envolvendo adolescentes acontecem, a culpa recai imediatamente sobre os pais. Mas será que esse é um olhar justo? A construção de um jovem passa por diversas influências:

• Redes sociais, onde desafios perigosos e padrões irreais de vida são normalizados;
• Escolas, que nem sempre têm suporte para lidar com crises emocionais;
• Mídia e entretenimento, que expõem dramas intensos sem sempre oferecer um desfecho saudável;
• Comunidade, que ignora sinais de alerta e só reage quando é tarde demais.

A romantização do caos

Muitas dessas séries, embora tragam debates importantes, podem acabar romantizando o sofrimento adolescente. Transtornos mentais, automutilação e até suicídio são retratados de forma intensa, mas será que existe um cuidado para não transformar isso em uma tendência de comportamento?

Precisamos falar sobre responsabilidade coletiva

Em vez de perguntar apenas "onde estavam os pais?", precisamos questionar:

• Como a mídia influencia os jovens?
• O que escolas e plataformas digitais fazem para protegê-los?
• Que espaços de acolhimento estamos oferecendo?

A adolescência é uma fase de construção de identidade — e essa identidade não é moldada apenas dentro de casa. Se queremos evitar crises profundas, precisamos olhar para a aldeia inteira. Afinal, o que consumimos, produzimos e incentivamos impacta diretamente essa geração.

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