Psicoterapia

A Dificuldade de Muitos Homens em Ressignificar Seus Papéis nas Relações: O Conforto do Macho Alfa e os Desafios da Modernidade

As relações entre homens e mulheres têm sido moldadas por séculos de normas sociais que reforçam um sistema desigual de poder. O conceito de "macho alfa" perpetua um modelo de masculinidade baseado na dominância e no distanciamento emocional. Com as mudanças rumo à igualdade de gênero, muitos homens resistem a abandonar esse papel tradicional, enquanto algumas atitudes femininas, conscientes ou não, contribuem para essa dinâmica. Este artigo explora os desafios e as implicações dessa transição para ambos os gêneros.

Por Psicóloga Daniela Cracel

05/12/2024 às 18:50:28 - Atualizado há
Reprodução/Divulgação

A Persistência do Modelo do Macho Alfa

Judith Butler (2003) argumenta que identidades de gênero são construções sociais. O "macho alfa" reflete essa construção, sustentada por um sistema patriarcal que idealiza homens como líderes independentes. John Gottman (2007) ressalta que a comunicação nos casais é influenciada por essas construções, muitas vezes afastando os homens da vulnerabilidade emocional.


O Conforto da Figura do Macho Alfa

Arlie Hochschild (1989) observa que o papel do provedor financeiro minimiza a responsabilidade masculina em tarefas domésticas e familiares, permitindo a manutenção da imagem de autoridade. Esse modelo, como diz Butler, é uma "performance imposta socialmente", que resiste a mudanças por reforçar uma identidade masculina valorizada.


O Que Eles Realmente Buscam?

Bell Hooks (2000) aponta que muitos homens buscam validação e respeito através do papel de "macho alfa". Contudo, isso frequentemente os afasta da intimidade emocional, limitando suas relações a trocas superficiais e rígidas.


Comportamentos Femininos que Reforçam o Papel Tradicional Masculino

Apesar das conquistas femininas, algumas atitudes perpetuam o modelo do "macho alfa". Aqui estão nove comportamentos comuns:

  1. Gestão doméstica unilateral: Mulheres assumem as tarefas domésticas sozinhas, criando uma dinâmica desigual.
  2. Evitar conflitos: Questões importantes são ignoradas para manter a paz.
  3. Educação exclusiva dos filhos: A responsabilidade parental recai exclusivamente sobre as mulheres.
  4. Evitar cobranças: Exigências são minimizadas para não sobrecarregar o parceiro.
  5. Ignorar problemas emocionais: Problemas do parceiro são evitados para poupar desconforto.
  6. Sacrifícios pessoais: Mulheres abdicam de aspirações para manter a harmonia.
  7. Encobrir falta de apoio emocional: A ausência de suporte é mascarada para evitar tensões.
  8. Negligenciar necessidades próprias: As prioridades femininas são deixadas de lado.
  9. Evitar discussões sobre poder: A liderança masculina não é questionada.

Esses comportamentos, mesmo realizados com boas intenções, perpetuam desigualdades.


Componentes Femininos nas Relações

Raewyn Connell (1995) aponta que a hegemonia da masculinidade é sustentada por comportamentos femininos que reforçam papéis tradicionais. Essa cooperação implícita dificulta a evolução para relações mais equilibradas.


O Que Ganhamos e Perdemos?

Embora o papel do "macho alfa" ofereça benefícios como controle e identidade social, ele limita a capacidade de estabelecer conexões autênticas e parcerias equilibradas. Tanto homens quanto mulheres perdem oportunidades de crescimento emocional e relacional ao perpetuar esses papéis.


Conclusão

A transição para uma dinâmica mais equitativa exige esforço mútuo. Homens e mulheres precisam desafiar normas de gênero para construir relações baseadas em empatia, comunicação e compartilhamento de responsabilidades. A verdadeira transformação ocorre quando ambos se libertam das expectativas sociais que restringem o crescimento.


Referências

  • Butler, Judith. O Gênero em Disputa. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.
  • Connell, Raewyn. Masculinidades. Rio de Janeiro: Zahar, 1995.
  • Hochschild, Arlie. A Segunda Jornada. Rio de Janeiro: Record, 1989.
  • Hooks, Bell. O Amor como Prática de Liberdade. São Paulo: Ática, 2000.
  • Gottman, John. O Cérebro do Casal. Rio de Janeiro: Sextante, 2007.
  • Johnson, Sue. A Terapia Focada nas Emoções. Porto Alegre: Artmed, 2013.


Psicóloga Daniela Cracel

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